Se eu me arriscar a dizer que sou sozinha, me falarão sobre amor e apontarão pessoas. "E eu?", dirão. Não conhecem nada sobre a paz na solidão do meu quarto e da solidão do meu vazio ecoante. Jornadas, tarefas, celulares, televisões, olhos desatentos, dores, 12 horas de serviço diárias. Ela me olha e me entende, mas se vai antes que eu possa dizer mais. Ele acha que concilia tudo, mas, cansado, me deixa escorregar, cada dia um pouquinho, pelo vão dos seus dedos. Eu sou quase-sozinha. Nos nós, paralisações, desesperos, pânicos, instintos, aceleração, pontadas, temores e tremores. Nas madrugadas, nos escuros, nos cantos, nos intervalos. No livro, na orientadora, no quarto desarrumado, no futuro, nas festas de final de ano, na pele fina e enrugada. Nessas horas, onde está todo mundo? Sou sozinha.

1, 2, 3 vezes cabelo no chão e, na terceira, o espelho mostrava uma nova eu. Cabelos, padrões, cabelos, bloqueios, cabelos, frustrações, cabelos, inaceitação.  Liso e cacheado, aprendizados forçados e espontâneos. Sem batom e sem salto e um sorriso nas fotos, mas querendo uma festa para poder me maquiar. Alguém me olhando com orgulho e admiração e eu trampando, conciliando, me equilibrando pra não pender nem perder. Entre a sensibilidade e a dureza, a apatia. A liberdade de deixar ir e asco por já ter ficado. Medo, muito medo e a coragem caída como meus cabelos. Medo do que? Do futuro. Do futuro da saudade, de amanhã de manhã, da metade da semana e do próximo mês, medo da vida e da reprova no teste. Ainda sem jeito para provas práticas. Ansiedade à mil, o redemoinho no estômago e o mundo pressionando minha cabeça. Daquelas dores que comprimidos não resolvem. Falta de atitude, mas bronca na voz: comigo malandro não se cria. A inocência e a conformação indo embora com o batom vermelho que mostrava uma certeza que eu não tinha. Com 23 e o 19  há mais de 4, agora a casa é minha, a mãe sou eu, eu que tenho que dizer não. Um gole de cerveja e uma preocupação, será que estou sendo o suficiente? Logo vem a culpa. Mais um gole de cerveja. Mudei pq cortei o cabelo ou cortei o cabelo pq mudei? 2019 foi punk.

De uns tempos pra cá, existe um peso que vem de cima e pressiona minha cabeça, machuca minha coluna e enfraquece minhas pernas. 
Todos os dias eu sinto lágrimas caindo. É como se a cada amanhecer eu perdesse um pouco mais do que eu era no dia anterior. Some quem eu sou e sobra a pressão que amassa, machuca e me drena.
Cada sinal que meu corpo dá, é um pedido de socorro: meus olhos sempre marejados, minhas mãos trêmulas, meus vômitos constantes, minha falta de interesse.
Eu peço socorro de forma descarada e coloco até em palavras a forma atrativa com que me olha  a cartela de remédios controlados na minha estantinha.
Eu abro meu coração pra ele, mas às vezes acho que ele pensa que estou exagerando. Ou talvez só  esteja  concentrado em coisas mais importantes.
Queria colocar as minhas necessidades em primeiro lugar, mas hoje sei que se eu prestar muito atenção em mim, a vontade de ir pode prevalecer...

Eu tenho medo e 'inda' está por vir

Está tudo bem se vc é agradecida pela vida, mas mesmo assim tem dias ruins.
Às vezes é difícil livrar-se da culpa de se sentir quebrada por dentro, mesmo que, aparentemente, tudo esteja no seu lugar.  Ainda que ninguém pareça te entender e que nada faça sentido, se movimente no seu tempo e regule seu relógio para girar em torno de si mesma, até sentir que está recuperada o bastante para girar na órbita de outro corpo. Lembre-se: vc ainda é grata por tudo e ama a vida, as pessoas ao seu redor e a forma como a maioria das coisas se organizam. Seu universo particular só está tendo problemas, cuide dele...no seu ritmo!

Uma vez um filósofo escreveu que entre a morte do velho e o nascimento do novo, surge a monstruosidade. Talvez seja isso, talvez estejamos vivendo no mórbido e no perverso, enquanto o passado sucumbe bem em frente aos nossos olhos e o futuro parece nunca ser parido.
Mas o que assusta nem é só a demora do depois ou a crueldade do que se vive, mas as falsas promessas sobre o que virá. Dói saber que tudo é ilusão e que esse novo é só o velho recalcado- depois de um longo tempo e de muita luta-, o passado do passado, tudo o de pútrido e malcheiroso que havia sido enganosamente bem enterrado no subterrâneo da nossa história de mulher.

 É por meio desse canal que a gente habita  o mundo, se manifesta nele e se relaciona com ele. O nosso corpo é importante! Mesmo quando sem intenção, ele está sempre se comunicando, externalizando quem somos e o que representamos. Entre outras coisas, ta aí a necessidade da gente zelar e dotar de personalidade e autenticidade esse nosso veículo material- que gesticula, se comunica, contesta, transforma- , porque à ele [nosso corpo] foi delegado o difícil papel de traduzir a nossa essência.

Se um registro material doloroso do seu passado te impede de seguir em frente, dispense-o. Se permita receber novas mensagens, escrever outros bilhetes, tirar fotos diferentes, sentir mais perfumes. No seu tempo, recupere-se do que já passou e visualize o futuro fresco que te espera!

Que possamos ter a força de vontade para multiplicar nosso coração em dezenas de partes valiosas, e espalhá-las em todo lugar onde nosso amor seja  necessário e bem-vindo.
Que ao esparramarmos esses nossos pedaços, façamos isso com cautela e discernimento, de modo que nossa doação seja valorizada e bem aproveitada. Que ao fazermos isso, tenhamos como metas espalhar o amor, colorir o mundo e se manter viva caso alguma das nossas partes se forem.

Não é amor se te prende e esvazia;
Não é amor se te desvaloriza;
Se te faz doer
Se te arranca a sua personalidade e o seu lugar no mundo
Se te limita e te isola
Se te ridiculariza e te faz implorar
Se te desprende de seus outros amores
Se te faz questionar a sua saúde mental
Se te coloca sob padrões e comparações.
 Não é amor quando não se sabe amar.

Às vezes o mínimo vai te sustentar de pé, e a sobra irá lhe fazer vibrar e acreditar que é o bastante. Nessas horas, seu coração pode bater forte pedindo socorro, e vc vai confundir os sinais.
O céu é pessoal e é construído por cada um, já disseram por aí. O que esqueceram de avisar é que nem sempre entendemos no que consiste o nosso paraíso. E se nos derem palavras, mas gostarmos de partituras? E se nos oferecem sapatos, mas preferirmos asas? E se não nos ofertarem nada? Arranquemos! Não o perfeito e irreal, mas o que nos preenche.

O tempo é (ini)"migo"

À medida que eu pisava firme com destinos bem definidos no hoje, pensava sobre o passado. Não de forma melancólica, mas com saudosismo, saudades e incompreensão sobre o tempo que passa rápido demais.
Só foi há pouco que tomei consciência, de fato, sobre o que o tempo significa. E quando isso aconteceu- e acontece-, tenho vontade de arrancar na unha o desenho da ampulheta representada na minha pele.
Ontem o clima estava chuvoso igual o dia que, há 2 anos atrás, insisti em ir à universidade, mesmo quando ela passava por um apagão. Eu estava empolgada...em ambos os dias..., mas só eu sei como as duas situações são tudo, menos semelhantes.
Nada mais é igual, mesmo que ficticiosamente, o caminho queira fazer parecer isso.
O chão me segura, mas já não me reconhece
As paredes me assistem, mas não me abraçam
As pessoas me olham, mas não mais sorriem.
Eu sou uma estranha, sem identidade nem pertencimento.
Não sou mais a menina tímida que sentava na primeira fileira, em 2014;
Não sou mais a germinação de mulher de 2015;
Não sou mais a rebeldia de 2016;
Não sou mais o trem desgovernado de 2017
Não sou mais o projeto de reconhecimento de ser humano de 2018
Eu sou maio de 2019, a que sorri, mas sabe dizer com detalhes aonde já chorou; a que tem legado, propriedade, mas sente falta do antes; a que conquistou respeito, mas busca admiração; a que vem se transformando há 5 anos, mas hoje se sente diferente, porque mais do que tudo, tem amigos, professores, intervalos com gargalhadas, crescimento, insegurança, amores e catuaba. Hoje eu sou maio de 2019 porque a (H)istória me tem, mais do que nunca

Mais do que eu imaginei

Quem decidiu o que é ser vitorioso? Quem inventou os padrões e as regras mínimas que devem ser seguidas para que alguém possa ser definido como tal?
Alguma imposição me disse que devo ser boa o bastante, mas não sei por quê e nem pra quem. Ninguém me disse como faço isso. 
Cheguei à bifurcações em que ambos os lados pareciam bons e maus ao mesmo tempo. Em todos os casos, uma pressão estranha me obrigava a decidir, e me senti como se estivesse me rasgando ao meio enquanto os dois barcos moralistas se afastavam um do outro. Não era como se eu quisesse ser isenta, eu só não desejava nenhum daqueles lados; preferia me afogar no mar.
Ou nadar, mesmo não sabendo.
Aprender a nadar, melhor dizer assim.
Não queria ir para o Leste ou Oeste, queria alcançar a infinidade do horizonte.
Sei lá o que eu iria alcançar quando chegasse lá, era cedo demais pra saber. Mas eu já tinha pra onde ir e estava fortalecendo os meus braços antes de mergulhar, e era isso o que importava: ser boa o suficiente... pra mim.

Pode ser que o amor da sua vida não se encaixe à você. Que seus corpos e pensamentos sejam perfeitos um para o outro, mas que suas histórias sejam diferentes demais para se darem as mãos.
Nesses casos, o coração vai doer e sentir a ausência, se remoendo na saudade e no saudosismo, já que desde pequenos, crentes que só o amor bastava, não nos atentamos para a lista de exigências que o sentimento trazia.
Não adianta que a mínima lembrança da voz e o cheiro façam a sua perna tremer e o olho lacrimejar,  tem que ter coragem de dizer sim, paciência pra esperar e certeza de que vale a pena, compreensão do tempo e limitações que o outro possui. Tem sim que ter paixão, beijo,  saudade, instinto e aventura, mas também, e acima de tudo, tem que ter persistência, olhar, sorriso de canto, desejo de voltar e muita, mas muita vontade de ficar.

Conexão

De onde vem essa força magnética que liga corpos através de movimentos helicoidais? Do encaixe de bocas unidas ou da harmonia de cérebros sintonizados?
Caminhamos trechos escuros e incertos demais para tentar chegar próximo o suficiente, mesmo quando o perto do desigual seja só insistência no desligamento
Talvez a procura não deva ser procura, mas constatação. Talvez nada seja respondido no balanço de corpos físicos, mas na dança sedutora de espectros apaixonados- um pelo outro.
Talvez tenha a ver com tesão pelos olhos e pela voz que te instiga, te esclarece ou te confunde. Ou  com amizade, admiração, conquista e jogo de ideias, com processos complexos demais para serem resolvidos apenas com uma cerveja e uma noitada.
Talvez possa ser que seja, talvez seja ou não.

Não se trata das flores distribuídas no 8 de março, mas das dores que afligem as mulheres durante todos os dias do ano.
Tem a ver com o Brasil ocupando o quinto lugar no ranking de feminicídio, enquanto grande parte da mídia trata os casos como mortes ocasionais...
coincidentes.
Tem a ver com o 14 de março de 2018 e com as armas miradas para Marielle e Anderson
Tem a ver com a violência e a impunidade
Com os condomínios, as vizinhanças, as provas sem convicções...
coincidentes.
Tem a ver com a apologia ao ódio e a volta da barbárie
Com os tiros que atingem tanto os carros de vereadoras quanto os jovens nas favelas e nas escolas
Tem a ver com os dedos que fazem gestos de armas, e com as mãos que as apontam
Tem a ver com o 17 nas urnas e com os 117 fuzis...
coincidentes...

#Mariellevive


É inútil ter certeza


Talvez nada faça sentido e a normalidade seja confusão, como aquelas memórias que mostram cenas desfocadas no metrô.
Talvez as ciências exatas só existam nos nossos corpos sedentos por respostas e soluções, e, no fim das contas, tudo seja feito para ser complexo, inconveniente ou inexplicável
Talvez não haja narrador e essa nem seja uma afirmação ateia, agnóstica ou qualquer coisa que diz respeito aos deuses, mas o temor de que toda essa história não traga uma moral, um alívio ou um ensinamento.
Talvez seja tolice buscar algo a mais nas letras embaralhadas dos quadros cotidianos, que podem muito bem ser artes abstratas só inteligíveis por seus autores.
Talvez a luz só seja dada aos despreocupados, loucos e inconsequentes, porque nada responde mais do que não buscar resposta alguma.

O tempo é agora

Quando era adolescente, imaginava uma situação hipotética em que alguém me perguntava "Pensar no futuro ou viver o presente?", e eu ficava em dúvida sobre o que responder. Hoje escolheria a segunda opção sem nem pestanejar.
Eu tentei pintar meu caminho com cada detalhe sistematizado, colorido e preto e branco; mas, com tudo estando móvel e fora do meu controle, desisti.
Frustada, dependendo do que não me pertence e com a ansiedade desenfreada, tento me acalmar e viver o dia dentro de cada dia, dando passos sem o planejamento preciso de onde vou chegar. Mesmo que eu chegue ao ponto no qual minha mente, dissimulada e cheia dos disfarces, deseja, sei que a forma com que isso ocorrerá, vai ser feita sem minha permissão e sob os mandos e desmandos da vida,.
Por isso o hoje importa, porque ele é tudo que eu tenho de concreto, tudo o que eu sou, tudo o que eu posso ser. Não há nada além da linha do agora, nem metas certeiras nem planos milimetricamente traçados, mas apenas o embaraçado, o temor e o duvidoso.

Vozes

Me agarrei de novo à solidão

Como se ela tivesse andado milhas só pra me encontrar, e eu como um gesto de boas-vindas misturado com saudades, a abraçasse
Me agarrei de novo à solidão
Como se ela fosse uma velha companheira, e eu, sempre carente, precisasse ficar sozinha, mas na presença dela
Me agarrei de novo à solidão
Como se me faltasse algo e nada me bastasse
Como se eu não fosse completa
E carecesse de parte de mim mesma quando ela não está
E me agarrei de novo à solidão
Como se fosse só eu e ela, sentindo os males do mundo
As dores no coração
E o medo incessante
Me agarrei de novo à solidão
Forte e esmagante
Como se nada nem ninguém nesse mundo todo me entendesse mais do que ela, a solidão.




Imprevisões e certezas

Acho que tudo bem se sentir agradecida e ao mesmo tempo melancólica.
A gente sabe tudo o que aguentou durante esses curtos e bem gastos 12 meses. A gente sabe o quanto custou.
Custou energia, determinação, muita vontade e lágrimas guardadas pra depois.
Custou mudança de rota, renovação e crescimento. Custou transformação.
12 meses de humor em degradê, de coração inflado com um amor que nos 12 meses anteriores vc achou que não merecia, de uma cabeça confusa, cheia de problemas e questões mal resolvidas. 12 meses de medo do futuro, de perdas e encontros, e de mãos que tiveram que trabalhar mesmo sem saber o quê e como fazer. 
Custou resgatar um 'você' que não existia em 31 de dezembro de 2017.
E isso é motivo de orgulho, mas a causa do seu cansaço e do temor do que te espera depois da curva.
Por isso, não quero me culpar por reconhecer o que consegui até aqui, enquanto choro sem justificativa, mas ao mesmo tempo, com 365 motivos listados.



Quando brilham os olhos

Vc me encontrou num momento em que eu sangrava, caminhava dormente e entrava em parafusos. Vc disse "Ok, eu te espero, mas eu te quero!" e não abriu mão do que vc desejava, nem quando seus melhores amigos te olharam assustados, vendo pela primeira vez uma atitude desse tipo em vc.
Chegou do nada, do jeito que eu sonhava, e foi claro sobre seus sentimentos e muito cuidadoso com os meus. Sem nem pestanejar, disse o que queria, terminando com "o que vc acha?", já que sempre respeitou as minhas escolhas.
Bondoso demais, te ensinei a ter mais voz e responder com maior firmeza.
Estressada demais, vc me ensinou a respirar fundo e resolver tudo com mais calma.
Vc me disse "eu te amo" de uma forma tão abrupta e repentina que não pude responder. Ainda não sabia se te amava. Até que um dia, depois de 8 meses, num estralo, eu percebi que era recíproco e descobri que é tão bonito te amar, tão confortável, tão sadio e seguro, que agora, toda vez que vc canta a canção que fez pra mim

"...Preciso de vc aqui
  Vc me traz paz
  Agora não vai fugir
  Não vai nunca mais..."

Eu só quero responder: 'eu resolvi ficar'.

Obrigada, Ivana!

Pq nós nos apegamos tanto ao fracasso? Pq deixamos que nossos erros se tornem os determinantes de quem somos?
É como se o longo caminho de tentativas de melhoras, traçados por aqueles que pensam de fato em melhorar, não valessem de nada, pq já aceitamos que somos um amontado fixo de falhas do passado (as que se mantém e até as que já se foram). 
Aprendemos aqui e ali, todo dia, observamos quem sabe fazer melhor, há mais tempo; crescemos aos poucos. Mas de nada adianta se o elogio e reconhecimento da pessoa mais importante (vc) não vier.
Hoje eu sorri pra mim mesma por uns segundos, enquanto dava os créditos por ter melhorado durante esse ano... não me tornado boa o bastante, mas o suficiente dentro do possível. 
Percebi que vez ou outra é necessário relembrar que esse é o máximo que eu poderia chegar no momento sem comprometer coisas importantes para meu bem-estar, e dizer que as qualidades existem e que os defeitos já não são os mesmos do ano passado, o que significa que estou crescendo. Hoje pensei que antes de esperar que outra pessoa aplauda as minhas ações, é preciso que eu me abrace e me diga: "É isso aí, bom trabalho!"

Recompensa

Pensei que nos últimos meses meu pai havia mudado, mas só depois descobri que quem está diferente sou eu, mais compreensiva, corajosa e adepta do diálogo.
Entre outras coisas, a terapia me ajudou a perceber que eu não posso mudar ninguém, mas consigo mudar a mim mesma e enxergar os outros com outros olhos. É como ler um livro pela segunda ou terceira vez e se atentar à detalhes que antes tinham passado despercebidos, e concluir, em alguns casos, que as leituras anteriores tinham sido feitas de maneiras equivocadas.

 Quase no fim do ano, agradeço pelo o que 2018 fez por mim.

Aceitação

Não dá pra negar se te faz tremer as mãos e balançar o corpo inteiro
Não dá pra negar se o coração aperta quando a distância se alarga
Não dá pra negar se tem saudades e tem espera
Não dá pra negar se o cérebro 'tiquetaca' sabendo quanto tempo passou em cada momento e desde aquele momento
Não dá pra negar se é o seu primeiro pensamento depois de uma cerveja
Não dá pra negar se vc não tem controle
Não dá pra negar se seu coração é guardião, mas também é trapaceiro
Não dá pra negar mesmo que vc continue negando e, nesses casos, a única solução é aceitar...

A dor do medo

Estamos no olho do furacão, ruindo na beira de um abismo. E o que fazer, então? Acreditar.
Talvez os dias comecem a nascer nebulosos daqui pra frente, mas eles ainda nascerão e isso pode ser a oportunidade de algo mais. O problema é todo e qualquer raio de sol começando a se apagar dentro de cada um, pq, nesse caso, só nos restará o horror.
Estamos no meio da cegueira, numa demência coletiva em que a verdade e a razão nem sequer foram postas em pauta por grande parte das pessoas. Essas mesmas, ao longo da história, sempre se dispuseram a não enxergar. Então, se o erro é escolha, o perdão futuro é incerteza.
Assisti a entrevista do Pe. Júlio Lancellotti e nela ele diz que o verdadeiro cristão age sem medo de ser crucificado. Será que eu já fui omissa por medo da cruz? Se sim, peço perdão por não ter contribuído pra que toda essa barbárie não acontecesse. Com o corpo trêmulo, rezo pra que eu não tenha nas mãos o sangue de quem eu nunca quis matar! #EleNunca #Resistência

09/10, terça-feira

Durante aquela palestra, olhei ao redor e só encontrei rostos abatidos.
À medida que o professor ressaltava as grandes chances do futuro só nos trazer dor, derrota e impunidade, mais distantes e pensativos os olhos dos ouvintes ficavam.
"A História não nos garante sucesso algum; o futuro não está garantido. É preciso se livrar dos otimismos, ingenuidades, ilusionismos e do 'sebastianismo vermelho'", aquele indivíduo frisava, sem papas na língua . Enquanto isso, meu coração apertava e diminuía.
Mas ele não se importou com os semblantes agoniados; muito pelo contrário, continuou bruscamente: "Ao invés de estarmos transitando para o futuro, nosso presente está amassado, tendo suas bordas encostando no passado e ressuscitando mortos que nunca estiveram mortos de fato. O recalcado retorna, seja como memória, seja como fantasma." Não teve como não lembrar do furo no futuro de que cantava Raul.
A rendição não vem e nenhuma força messiânica intervirá, era isso o que ele queria dizer. Não há mais esperanças, visto que assistimos a volta do "'cada qual em seu lugar' e 'você sabe com quem está falando?!'"
Porém, para ele, apesar disso, não temos tempo para luto, apatia e apaziguamento. É hora da resistência e da luta, já que "os historiadores têm que trazer de volta os corpos amassados e cheios de sangue, construir rostos e trajetórias e pararem de empilhar e enterrar rapidamente os mortos para superar o luto e tentar continuar vivendo."

Depois do fim da palestra, me alcoolizei.

Um novo banco de dados

Algum dia, quem sabe, vou conseguir deixar o que fui e apenas ser. Me renovar, começar de novo, sem bagagem.
Nesse dia, não vão mais haver fotografias melancólicas e antigas pregadas no meu mural de memórias. Não vou sentir saudades desmedidas, o nó na garganta, nem o coração murchar pelo que já foi. Quando eu ficar triste, vai ser pelo que é.
Não vai existir vontade de voltar e fazer diferente pq já vou ter sabido que optei pelo melhor caminho.
Nessa utopia, não há respiração entrecortada, dúvidas grosseiras, nem pensamentos saudosistas e alucinados, mas só o hoje, puro e às vezes simples



Quando nos machucam demais, é necessário ter força o suficiente pra que a maldade não se empedre por dentro e passe a mover nossas ações.
Mesmo depois de algum tempo, ainda permanecem resquícios da feiura, e se não termos cuidado, ela acaba sendo reproduzida no piloto automático. Numa reviravolta, vc se encontra na posição do algoz e quer, à todo custo, causar sofrimento a sua vítima.
Te fizeram acreditar que o amor é dolorido, então se o outro não te machuca, é necessário que o agressor seja vc. E na turbulência e no desamor, vc se regojiza e se sente em casa.
É estranho pensar que alguém te ama e não pretende te trazer tristeza (muito pelo contrário). É estranho descobrir que vc pode- e merece sim- ser amada e cuidada incondicionalmente e sem prazo estabelecido pro fim. É estranho, difícil e atormentador não deixar que a perversidade e a necessidade pela desordem tome conta de quem já foi espezinhada e transformada em sobra.

Desaconchego

Há 1 ano, nessa mesma época, eu estava contando os dias, com medo de tudo aquilo acabar.
Olhava cada detalhe com muita atenção, pq tinha consciência dos dias contados.
Em certos dias, reparava nas pessoas que eu gostava, e tomava nota : 'A unha da A. é bonita', 'H. senta de um jeito engraçado', 'A. está entediada', 'E. é o único que continua prestando atenção', 'A. força demais a caneta no papel', 'E. tá concentrado, mexendo de no celular', 'L. fala muito certinho...' 
Eu gostaria de continuar encostada naquela parede, com aquelas companhias. Mesmo que tudo parecesse uma bagunça dentro de mim- principalmente depois das 10, quando eu sabia que mais um dia da minha lista de dias calculados havia acabado- eu sentia como se, depois de quase 4 anos, eu finalmente tivesse encontrado o meu grupo.
Eu sabia que doeria quando eu saísse lá fora e a realidade desse um tapa na minha cara, e por isso, choraria quando estivesse só, em minha companhia. Mas eu preferia que fosse assim, pq entendo que romper o laço é doído demais e deixa todo mundo no relento (digo por experiência própria).
Ontem eu cheguei na minha nova universidade, conversei com algumas pessoas e procurei o cabelo loiro da minha amiga inseparável, do humor e alegria contagiante o meu E. e do abraço gostoso e fraternal do P.. Infelizmente, não encontrei ninguém e,  sozinha e distante de casa, senti frio.

Conto pra você, conto com você

Nós temos um acordo tácito e, sem dizer uma palavra, sabemos o que da outra deve ser guardado.
A confiança é tamanha que nós nunca precisamos pedir pra algo não ser dito...nós só sabemos! Esse silêncio, que esconde uma carga de confidencialidade imensa, só é quebrado quando precisamos nos posicionar e defender uma a outra.
Ontem, quando eu disse que já não sabia mais que caminho seguir, você me respondeu com três palavras que ninguém nunca havia me dito antes: "siga seu coração". Hoje, eu só queria quebrar o nosso tratado de silêncio para dizer que desejo que você faça o mesmo, e que estarei aqui se resolver ir por essa direção.
Eu nunca vou chegar nem perto de saber qual o tamanho e a força dos seus demônios, mas espero que você continue corajosa e os enfrente da melhor maneira possível, e seja feliz, muito feliz, porque mesmo que, geralmente  não colocado em palavras, eu te amo, e vou fazer isso por quantas vidas tiver.

Você é minha luz!

Mantra da ansiedade

Respire fundo
Controle o choro desmedido 
Diga à si mesmo que o amanhã já vem e pode deixar pra trás esse dia horrível
Vê se organiza os pensamentos e tenta não resolver tudo de uma vez
Vc tem tempo.
Não tome decisões precipitadas com essa sua percepção distorcida
Avise seu corpo que vc ainda está na liderança
E negue o vômito
Dê prioridade para sua recuperação 
Deite e escute o silêncio
E tenha a certeza que amanhã vc vai conseguir...
Vc sempre consegue!

"Na contramão do que está por acontecer, vou respirar com paciência..."

Lembrete

Quero sempre me lembrar de como eu adorei a maneira que seus braços esquentaram a minha noite e de como acordei várias vezes só pra te olhar.
Se caso surgirem dúvidas, vou puxar na memória o par de olhos apaixonados num rosto seguro entre suas mãos, mirados em mim.
Não vou me esquecer do tamanho da sua felicidade quando soube da minha aprovação, e de como torce e me apoia incondicionalmente em tudo o que eu decido fazer.
Você faz questão de me mostrar que troca companhias de anos por uma de meses, e que está disposto a mover mundos e fundos pra que essa companhia não seja passageira.
Você fala do futuro e do depois, e por mais que isso me assuste e me faça querer fugir, eu adoro ouvir a certeza na sua voz.
Você contraria as suas vontades só pra respeitar minha opinião, quase sempre divergente, responde com carinho, segura o ciúmes e não me impõe nada. Nada.
Dessa vez você me abraçou tão forte e sorriu tão bonito que me fez pensar se não é isso mesmo que eu quero e se, depois de toda a tormenta, não é justamente disso que preciso.

Realmente, hoje a vida anda bem mais bonita do que um dia já foi. Tem luz em muitas coisas e isso é no mínimo reconfortante. Mas ainda assim, sinto como se algo estivesse deslocado ou fora da ordem (como diria Caetano Veloso).
Nesse puxa daqui, remenda dalí, eu não sei mais o que fazer. Num áudio que não deveria nem ter chegado aos meus ouvidos, minha tia comenta como anda preocupada com a forma que minha visão complica até as coisas mais simples. Quando ouvi, concordei.
A psicóloga adora me questionar se eu já consegui relaxar os ombros e aproveitar o bom momento que estou vivendo, e em todas as vezes tenho que ser sincera e mandar uma resposta negativa.
Minha melhor amiga me pediu pra parar e refletir sobre o que me incomoda (se é meu emprego, meu namoro, meus objetivos...), e então me lembrei daquele videozinho da Jout Jout (que nunca fez tanto sentido quanto agora) sobre A Parte Que Falta e que nunca será preenchida, já que esse vazio completa a ordem natural das coisas (se é que essa ordem realmente exista).
Enfim, talvez toda essa confusão seja só a vida adulta, que pra mim é um emaranhado de cotidianos e cotidianos sem graça e que não me dá frio na barriga nem me treme as mãos.

Ela sempre faz questão de perguntar se eu prefiro o hoje ou o antes, e eu nunca consigo responder com precisão e verdade. No fundo eu sei o que dizer, mas tenho consciência de como a minha resposta pode ser significativa. 
Pensei sobre isso, lembrei com saudosismo da dor e percebi como esse pequeno gesto inconsciente é perigoso, no mínimo. Perigoso porque, sem perceber, me acomodei com o que me incomodava.
Perigoso porque toda essa situação diz muito sobre quem eu sou e mais ainda sobre a pessoa que estou disposta a me tornar.
Vou pensar melhor sobre como confessar isso da próxima vez, pra depois revelar, de uma vez por todas, que eu me adaptei tanto ao sofrimento e à solidão, que agora me sinto perdida vendo eles irem embora.

Matrix

Ninguém vai te mandar uma mensagem, comunicando-o de que esse, talvez, seja o melhor momento da sua vida. Como em quase todas as situações, devemos descobrir sozinhos.
Sozinha descobri que estou insatisfeita e que, lá fora, quase tudo é dificuldade e mesmísse.
Sozinha descobri que quase sempre vai ser 'mais ou menos' e quase nunca realização.
Vai ser morno e ainda teremos que agradecer por isso, já que o gelado é dolorido e o quente demais  geralmente é só fogo de palha.
Sempre vai ser comparação com os dias mais congelantes, então tem que ser o suficiente... ou o melhor que se tem pro momento.
Poucas coisas vão acelerar o coração, tremer as mãos e fazer o estômago se encher de borboletas frenéticas. Pelo contrário, nesse mundo programado, a gente dorme, reza pelo insosso e levanta as mãos pro céu quando ele aparece dia seguinte.

A minha alucinação...

Às vezes parecem miragens distorcidas das suas formas e do seu jeito característico de andar, e eu culpo a miopia pelo quase delírio.
É sempre azul ou vermelho vindo entre o verde, bem em minha direção. E eu aperto os olhos e miro atentamente, pra só assim ter certeza...
Convenço a mim mesma que foi só uma confusão, da mesma maneira que teria acontecido com inúmeros outros conhecidos, mas no fim das contas, a verdade golpeia: isso é só com você.
A impressão é a que tudo continua no mesmo lugar... cores, formatos, espaços e pessoas. Porém, nesse mesmo lugar e no horário de sempre, eu paro, olho ao redor, te espero ansiosamente, mas você me deixa plantada, sozinha e decepcionada, e cada vez mais eu tenho a certeza: você nunca mais virá!

Oração

Que eu vislumbre o meu entorno e reconheça a beleza do que me rodeia;
Que eu feche os olhos e tenha a sensibilidade de agradecer pelo meu hoje,
Chore cada vez menos pelo que ficou pra trás
E aguarde o amanhã com serenidade;
Que eu tenha paciência de esperar pela mudança
E saiba respeitar quando ela decide demorar-ou simplesmente não vir.
Que eu consiga detectar meus erros
Mas concorde quando a vida resolver apontar minhas qualidades.
Que eu aceite que nem tudo está sob meu domínio
E que algumas coisas não são para mim, mesmo que eu as queira muito.
Que eu só guarde bons sentimentos
E saiba distribuí-los para quem os valoriza.
Que eu reconheça o amor
E saiba senti-lo.
E, acima de tudo, que eu identifique o que me é corrosivo
E seja forte e madura o suficiente para me afastar disso.
Que eu respeite o meu próprio tempo e acalme a respiração quando achar que estou sufocando;
Que eu saiba sentar e descansar as pernas quando necessário,
Pra só depois seguir viagem
Com paciência
E oração.

Resultado de imagem para sem pressa e pra sempre

...a César o que é de César

A maioria das pessoas acredita que o mundo lhes deve algo. Eu também penso isso em muitas ocasiões e, às vezes, até sento de forma presunçosa e espero que a vida traga o que é meu por direito. Mas será mesmo que eu tenho direito a algo?
Há três dias eu quase repeti o erro costumeiro e meti os pés pelas mãos, estragando tudo. Chorei virada pra parede enquanto ele se agoniava, tentando entender o que estava acontecendo. Mesmo no escuro, consegui enxergar olhos desesperados e uma mão esfregando a testa que se envermelhava.
Tudo é muito especial, leve, verdadeiro e sereno e, por isso mesmo, estou arregando e fugindo do que parece ser bom demais pra mim. Justamente por meu termômetro de merecimento (aquele que eu mesma criei) marcar um número irrisório, é que me espantei quando esse presente chegou no meu endereço, sem mais nem menos.
Agora não sei se faço justiça, opto pela abnegação e informo a entrega errada, ou decido aceitá-la, percebendo assim, de uma vez por todas, que apesar de não merecer, esse presente, por erro ou acerto do destino, caiu bem nas minhas mãos- e nos meus braços.

Amarelou tudo o que não se movia

Aquela fotografia continua no mesmo lugar,
Estática e representativa,
Guardando a lembrança do dia mais lindo daquele ano doloroso.
Pelo tamanho do meu sorriso, hoje eu sei que, além de feliz, estava apaixonada.
Amei na ingenuidade, me apaixonei sem nem saber.
Nunca me ensinaram nada sobre isso de gostar e ser gostada. Nunca me disseram que eu poderia ser como todo mundo porque também era dotada desse poder.
Então, quando senti uma alegria tremenda acompanhar o meu coração acelerado, pensei que pudesse estar ficando louca.
O sorriso estampado na imagem parece muito com aquele que exibi na foto que tirei acompanhada, há 1 semana atrás. E se a causa for a mesma? Será que já tá em tempo pra falar sobre o que estou sentindo? Ou de novo, tapo o sol com a peneira e me embaralho toda no medo permanente e em um turbilhão de sentimentos confusos?
Aquela fotografia continua no mesmo lugar...

Não precisa dizer mais nada, só me mostra
Pode falar bem baixinho, que mesmo assim vou te escutar
Vê se decide se quer esquecer ou vai preferir guardar desde as coisas mais importantes até as mais banais
Tenta descobrir se foi insignificante ou representou além do que deveria
Feche os olhos à noite e evite sonhar.
Evita.
Ouça aquela música que diz tudo e tenta não pensar em nada
Reseta de novo o que você já achou que tivesse apagado
Não sinta falta da dança
Nem do cheiro
Nem da banda
Nem da cor
E muito menos do sabor da bebida
Fique em silêncio e não leve em conta o quanto o silêncio já foi falante
Viva um dia de cada vez
Abra seu coração e finja que está bem e que tudo não tem parecido mais difícil do que antes
Vai ignorando a nitidez do que já foi dito e ficou perdido no ar
Tenta acreditar que um dia preencheremos esse vazio.
Olhe pro nada e, oco, procure se apegar no talvez.
Amanhã,
talvez.

Ouro de Tolo

Hoje eu parei pra ouvir as batidas do meu coração
Bate
Bate
Bate
Ritmo, não arritmia
Constância, não descontrole
Lentidão, não alvoroço
Nenhum sobressalto, só calmaria.
O que eu achei que precisava e pedi nas minhas orações da noite, Deus me atendeu. Mas eu nunca soube rezar e acabei suplicando por algo que eu não queria.
A segurança de hoje me faz lembrar da instabilidade do ontem;
O banal me faz sentir saudades do sol no meu rosto e do friozinho no pé da barriga às 6 e 45 da tarde;
A serenidade me faz querer de volta aquele mar turbulento que eletrocutava minha mão, mexia, quebrava e remontava minha estrutura, e transformava meu coração num insano lesionado que só queria mais...


Autodidata

Ninguém nunca fez a gentileza de nos dar a receita,
Dizer quais os ingredientes para o desamor e qual a mistura para amar novamente,
Nem nos ensinar como convencer a nós mesmos que o leve é mais saudável que o problemático.
Em nenhum momento nos alertaram que mesmo o corpo sendo nosso, não temos total domínio sobre ele, 
E que, às vezes, ele vai nos pedir coisas que não podemos mais dar;
E que quando você ouvir uma voz, é pra registrar bem, pq pode ser a última vez que você a escuta.
Não fizeram questão de nos lembrar que não dá pra tapar o sol com a peneira, nem crateras com apenas uma pá de cimento;
Que não se pode enterrar um corpo que está completamente vivo;
Que não dá pra ficar procurando onde você sabe que não vai encontrar o que deseja;
Que é permitido construir novas memórias, mas é impossível voltar no tempo e viver um mesmo momento outra vez.
Propositalmente e de forma covarde, não nos apresentaram um  manual de como lidar com a despedida, nem nos advertiram que o 'nunca mais' existe sim e que a gente tem que ser forte o suficiente pra saber lidar com ele.

Algumas feridas nunca se fecham, acho que é isso.
Elas nunca se transformarão em cicatrizes ou manchinhas escondidas por debaixo da blusa, isso porque elas foram feitas especialmente pra serem machucados: o seu machucado. 
Às vezes, um cutucãozinho de nada vai fazer com que ele sangre, suje sua roupa e acabe revelando pra todo mundo que, vergonhosamente, vc ainda não descobriu um jeito pra secar aquele corte .
Mas chega um momento, depois de esperar com paciência dias e mais dias, vc percebe que precisa seguir, mesmo que seja carregando aquele ferimento, pq ele já faz parte de quem vc se tornou e nada mais pode mudar isso.
Todo dia dói um pouco, só pra te lembrar que ele ainda existe. Mas vc sorri, deixa de lado o band-aid, desiste de escondê-lo com base, e resolve aproveitar todos os momentos em que a dor parece menor e mais suportável.

À dor dos recomeços

Eu encadernei todas as minhas apostilas, de 2014 à 2017, respeitando a ordem dos textos. Terminei isso na terça-feira, dois dias antes da colação de grau. Eu fechei esse ciclo e foi, talvez, a coisa mais dolorida que já fiz na minha vida.
Foi difícil pq deixei pra trás mais do que uma salinha pequena- mas aconchegante- e professores totalmente generosos. Tive que deixar pra trás pessoas que eu amo; deixei perfumes e gostos; deixei pra trás as minhas micro histórias, apesar da História ainda ser minha guia.
Quando eu joguei o capelo pro alto, eu senti a primeira lágrima descer (a qual se transformou em várias quando a Anny me abraçou). Lembrei que foi esse o lugar que me viu crescer, um pouquinho a cada dia; que me viu chorar em outras ocasiões, por diferentes motivos; que me viu colocar o meu coração em todas as coisinhas que eu fazia e em todas as pessoas que eu abraçava.
Foi ali, naquele gramado- que por muitas vezes me pareceu infinito e lindo demais para ser real- que eu aprendi que eu não era aquilo que sempre pensei ser. Foi naquela faculdade que eu percebi que são os erros e as diferenças que ensinam pra valer; e que reparei que conseguia ser mais forte, mesmo quando tudo parecia desabar ao meu redor. 
Foi naquela grama, durante a noite e em meio ao vento, enquanto meu coração de gelo, à revelia do clima, derretia aos poucos, é que eu descobri, pela primeira vez na minha vida que, como as outras pessoas, eu também conseguia amar de verdade. 


Se eu pudesse rebobinar

Hoje, quando eu acordei e percebi que teria um dia daqueles,
Quando liguei a TV e não consegui assistir o único programa que eu sempre gostei;
Enquanto chorava e, louca, desejava poder trocar esse momento de merda até por agosto de 2016 ou maio de 2017;
Depois que já passava de 6 horas trancada no quarto em jejum, e minha família começava a entrar e me abraçar, pq essa era a única coisa que se podia fazer no momento...
eu comecei a sentir falta dela.
Senti falta da menina que amava o que via no espelho,
Da que acordava empolgada e curiosa com o que aconteceria durante o dia,
Da garota sonhadora, confiante, desapegada, concentrada e produtiva.
Hoje, depois de refletir sobre o que mais me trazia aquela angústia, descobri a saudade que sinto da Ivana de quatro anos atrás...

Pela contradição de ser mulher

Pelas proibições e choros escondidos
Por aquelas que amam livremente e são taxadas
E pelas que são reservadas e  incisivas e por isso são julgadas 
Por aquelas que não nasceram com o dom maternal
E pelas que escolheram ser mães, esposas e donas de casas
Por aquelas que não se encaixam em padrão algum
E por aquelas que nem pensam em ser diferentes
Por aquelas que são condescendentes enquanto sentem dor
E por aquelas que cansaram de grades e só pensam em voar
Pelas que bebem e cantam alto
Pelas rebeldes que colocam a mão em punho e gritam desesperadamente por justiça e igualdade
Pelas loucas
E pelas certinhas
Por todas aquelas que fizeram e fazem história, mas são apagadas dela
Por aquelas que lutam por todas e por todas aquelas que ainda não descobriram que é preciso lutar

Por todas e para todas, um feliz dia da Mulher!

Você e um qualquer

Tente pensar no seu problema como um apêndice, algo que está fora do seu corpo e é externo à você.
Ele existe e isso é inegável, porque você conhece o seu peso e sabe quais as estratégias que estabelece para tentar enfrentá-lo. Porém, por mais incômodo que seja carregá-lo nas costas, ele não é um pedaço de você.
Não é um membro do seu corpo
Sequer um órgão
Nem um tecido epitelial
E muito menos uma parte que compõe o lobo frontal do seu cérebro.
Ele é apenas um desafortunado, sem rosto, sem nome e sem história, lutando pra te debilitar.
Por mais mudados que estejam seus sentimentos, sua anatomia continua intacta. Por mais confuso e misturado que tudo parece estar (você e seu problema, unidos como um novelo de lã), e por mais que desacredite disso agora, você vai continuar forte quando o hóspede indesejado e temporário desaparecer e te deixar mais viva do que nunca


Os dados ainda estão rolando

Às vezes estamos envolvidos demais em sentimentos.
Presos,
Afundados, 
Se afogando. 
Até que resolvemos olhar para o lado e percebemos que a água que vinha nos atingindo como um dilúvio, na verdade, só chega até o joelho; e que por mais que sintamos o contrário, essa água não tem a força de um oceano, mas de um lago.
O mundo ainda não acabou, mesmo quando parece que estamos lutando um Armageddon diferente, todos os dias.
As estações do ano continuam se repetindo, as crianças crescendo, o sol se pondo, porque como disse Shakespeare, independente do tamanho dos seus problemas, o mundo não para pra que vc se recupere de suas dores.

Como Felícia Duff

Eu sinto tanto que às vezes parece impossível administrar tudo.
Mesmo que de uma forma torta e pouco afetuosa, eu estimo cada pessoa que aparece na minha vida.
Quero que ela fique
Quero que ela goste e escolha ficar.
E quando alguma-ou algumas- dela vai embora, eu não me desprendo com facilidade, já que se elas estavam aqui é pq ocupam um pedaço de mim. 
Entre todas as coisas que aprendi odiar, está a descartabilidade das relações (plagiando Bauman) e a capacidade de fingir e fazer com que outra pessoa acredite que está ali pq significa algo. Enquanto isso, num ato desprezível e mesquinho, sabe que ela não vai ficar.
Ela já vou usada o bastante e está pronta pra ser jogada fora
Porque nunca representou nada
E foi utilizada como uma distração passageira, uma revistinha de palavras-cruzadas.

Não faça uma pessoa se sentir amada, pra só depois deixá-la descobrir que nunca foi.
E, por outro lado...
Não faça uma pessoa parecer dispensável e insuficiente quando, no fim das contas, ela significa muito, significa pra caralho.

Escondidas, existem melhores versões de nós mesmos. 
Melhores não porque são moralmente superiores às dos outros, mas porque são muito mais autênticas do que as anteriores já foram. Melhores porque quando a gente se reconhece e se aceita verdadeiramente, conseguimos ser bem mais felizes.
Nascemos e crescemos pra sermos cópias, falsificações das falsificações, a imitação dos nossos pais, avós, amigos e vizinhos...
Nascemos pra ser mais do mesmo.
Mas não somos, mesmo quando ainda não sabemos disso.
Às vezes surgem pessoas que te abrem, te desembrulham, te desatam, te desconsertam...
E vc descobre que pode ser muito mais
Mais diferente, um tanto melhor.

Agradeço a pessoa que, sem saber, já fez isso por mim (aos poucos e por meses à fio). Mas agradeço principalmente à minha dupla que ainda continua me levando, de uma forma totalmente desprendida, à encontrar a parte mais legítima e assustadora de mim.

Eu me lembro

Existe um aplicativo chamado Timehop que serve pra mostrar as recordações- no estilo Facebook- das postagens feitas em cada rede social há um ano. Instalei e o usei durante dois meses, mas depois resolvi excluí-lo. Não era necessário.
Sei que dia 01 vai fazer um ano da vez que resolvi seguir meu coração e tomar uma decisão arriscada que à longo prazo me geraria muito conflito. Situações pelas quais, no fim das contas, eu acabei percebendo que precisava ter enfrentado pra conseguir crescer. Lembro da camiseta amarelo ovo, da ação repentina, do meu conjuntinho estampado com âncoras e lemes, do meu anel perdido, dos tremores nas minhas mãos e de ter passado a tarde daquele dia sentada num banco perto dos bebedouros, lendo um livro de capa rosa.
Sei também que dia 08 completará um ano da morte da avó da minha amiga. Era o Dia da Mulher e eu tinha acabado de escrever um textinho feminista quando soube. Lembro de não ter dormido a noite e de acordar cedo no outro dia porque precisava ir à Maringá e passar o dia na biblioteca, pesquisando. Enquanto lia sobre a Evita, pensava na minha avó e me sentia estranha por estar ali enquanto uma pessoa que eu gosto tanto passava por aquele momento horrível. Lembro de chegar em casa, tomar banho e vestir minha saia longa estampada e minha blusinha nude de alcinhas. Lembro de voltar arrasada do velório e de ajoelhar perto de um puff, encostar a cabeça nele e só acordar com minha tia me chamando.
A verdade é que exclui o aplicativo porque descobri que, independente da existência dele, as recordações mais marcantes e significativas (boas ou tristes, prazerosas e doloridas) continuam guardadas dentro de mim mesma.

Resultado de imagem para se não fossem as minhas malas cheias de memórias

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