QUEM EU FUI EM MAIO 

Amanhã completam seis meses da minha saída para Brasília. Desde então-desde que pisei os pés de volta na minha cidade, alguns dias depois-, tenho tentado resgatar todo tipo de memória das experiências que vivi por lá. Eu bem sei que essa viagem poderia ter sido como outra qualquer, mas a carga histórica e política do que eu vi- e participei -durante a semana, fez tudo ficar diferente.
Me lembro que era um dia chuvoso, meio frio. Eu usava uma blusa azul com listras brancas. A votação do impeachment havia sido cancelada, o que não durou mais do que algumas horas (obviamente.). Lembro de olhar a tela do celular por uns 10 minutos, ainda em dúvida (muita dúvida), e num rompante de coragem, decidir que iria. Lembro das notícias na TV pequena de canto, na rodoviária de P.; da cozinha da App; da viagem cansativa que fizeram meus joelhos arderem; da empolgação na hora de cantar ‘Como Nossos Pais’ com pessoas que eu nunca havia visto na vida; lembro da escada do Panteão da Pátria; da noite fria e dolorosa, ao relento; do nosso cochilo na grama, na frente do Ministério da Educação; do contato com os indígenas; lembro do ódio no olhar dos policiais fascistas que nos interrogaram, e no rosto das pessoas que encontramos no elevador e que nos chamaram de vagabundos por causa de como nos vestíamos. Mas entre  tudo isso, eu prefiro me lembrar, com maior frequência, da bondade no olhar da mulher que nos ofereceu um banho quente como um gesto de doação para total desconhecidos, e, principalmente, da sensação dos pelos dos braços se eriçando e dos olhos lacrimejando ao ver a manifestação vindo em nossa direção e me dando a certeza de estar lutando do lado certo!
            
Lembro, lembro, lembro... Eu não pretendo esquecer!


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