09/10, terça-feira

Durante aquela palestra, olhei ao redor e só encontrei rostos abatidos.
À medida que o professor ressaltava as grandes chances do futuro só nos trazer dor, derrota e impunidade, mais distantes e pensativos os olhos dos ouvintes ficavam.
"A História não nos garante sucesso algum; o futuro não está garantido. É preciso se livrar dos otimismos, ingenuidades, ilusionismos e do 'sebastianismo vermelho'", aquele indivíduo frisava, sem papas na língua . Enquanto isso, meu coração apertava e diminuía.
Mas ele não se importou com os semblantes agoniados; muito pelo contrário, continuou bruscamente: "Ao invés de estarmos transitando para o futuro, nosso presente está amassado, tendo suas bordas encostando no passado e ressuscitando mortos que nunca estiveram mortos de fato. O recalcado retorna, seja como memória, seja como fantasma." Não teve como não lembrar do furo no futuro de que cantava Raul.
A rendição não vem e nenhuma força messiânica intervirá, era isso o que ele queria dizer. Não há mais esperanças, visto que assistimos a volta do "'cada qual em seu lugar' e 'você sabe com quem está falando?!'"
Porém, para ele, apesar disso, não temos tempo para luto, apatia e apaziguamento. É hora da resistência e da luta, já que "os historiadores têm que trazer de volta os corpos amassados e cheios de sangue, construir rostos e trajetórias e pararem de empilhar e enterrar rapidamente os mortos para superar o luto e tentar continuar vivendo."

Depois do fim da palestra, me alcoolizei.

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