A MÁSCARA E O ROSTO 

Assim como eu, você é uma daquelas pessoas que se escondem sob mais camadas do que o normal. E de tão transparente e aberto que parece ser, quase todo mundo nem tenta mais te decodificar porque acredita que a biografia completa já foi lida, sem nem perceber que as palavras tortas no seu rosto não são escritas com caneta permanente.

Depois de receber tantas críticas por nunca perceber os seus disfarces, resolvi prestar mais atenção. Por mais sinceros que parecessem, eu vi a quantidade de sorrisos forçados que você deu em troca de aceitação. Reparei nas inúmeras vezes que ultrapassou o limite que separa a educação da simpatia só para que pessoas aleatórias gostassem de você. Talvez por experiência própria, mas detectei o personagem popular que você estava tentando manter. 

Poucas vezes eu vi sinceridade nos seus olhos, e, infelizmente, a minha melhor memória é a de quando suas vistas quase imploraram pra eu desistir daquele papo e te deixar em paz. Mas o 'você real' estava ali, e isso é o que importou no final das contas.

Você se deixa mostrar em ataques de nervoso (nos momentos mais aleatórios); quando franze o cenho, envermelha o rosto e coloca a mão em punho na bochecha; em todas as vezes que seus olhos, do nada, se tornam confusos e você parece não saber mais pra onde ir a partir daquele ponto. Mas de verdade, eu só consegui te enxergar realmente, nos seus dias de tristeza e cansaço, quando você abaixou a cabeça ou desviou o olhar antes de virá-lo pra mim e com as pálpebras meio caídas e um cigarro aceso entre os dedos dizer  "eu sei" antes mesmo de tornar as palavras audíveis. Aí está você!!